quarta-feira, 30 de março de 2016

Palestra: É difícil aprender??


DISTÚRBIOS, TRANSTORNOS DIFICULDADES, OU PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM: COMO DEFINIR?








A definição do que se considera como distúrbios, transtornos e/ou dificuldades de aprendizagem é ainda conturbada, com vasta literatura a respeito e, por vezes, com concepções divergentes entre si.

Estes conceitos, geralmente, vêm sendo utilizados de maneira aleatória, tanto na literatura especializada, quanto na prática escolar.  França (1996) aponta que há uma certa tendência, por parte dos defensores da abordagem comportamental, a utilizar o termo “distúrbio”, uma vez que este termo se relaciona à condição individual do sujeito, enquanto os construtivistas parecem ser adeptos ao termo “dificuldade”, termo que amplia a noção de aprendizagem também para as condições sócio-culturais.

Etimologicamente, a palavra distúrbio compõem-se do radical turbare e do prefixo dis. O radical turbare significa “alteração violenta na ordem natural” e pode ser identificado também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar e conturbar. O prefixo dis tem como significado “alteração com sentido anormal, patológico” e possui valor negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica (por exemplo: distensão, distrofia). Em síntese, do ponto do vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural”.

De acordo com Collares e Moyses (1992) a utilização indiscriminada da expressão “distúrbios da aprendizagem” no cotidiano escolar seria mais um reflexo do processo de patologização da aprendizagem ou da biologização das questões sociais.

A definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da América,
Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições ou influências. (Collares e Moysés, 1992: 32)

O uso desse termo nos chama atenção para a existência de educandos/as que, apresentam dificuldades de aprendizagem, embora, aparentemente não não possuam deficiências físicos, sensoriais, intelectuais ou emocionais. Consequentemente, durante anos, esses indivíduos foram ignorados, mal diagnosticados ou maltratados e as dificuldades que demonstravam foram, na maioria das vezes, designadas de maneira equivocada.

Outra terminologia recorrente na literatura especializada é a palavra “transtorno”. Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças, elaborado pela Organização Mundial de Saúde:

O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais (CID - 10, 1992: 5).

Sobre os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares afirma-se que são transtornos nos quais os padrões normais de aquisição de habilidades são perturbadas desde os estágios iniciais do desenvolvimento. “ Eles não são simplesmente uma conseqüência de uma falta de oportunidade de aprender nem são decorrentes de qualquer forma de traumatismo ou de doença cerebral adquirida. Ao contrário, pensa-se que os transtornos originam-se de anormalidades no processo cognitivo, que derivam em grande parte de algum tipo de disfunção biológica (CID - 10, 1992: 236).

Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares geralmente ocorrem junto com outras síndromes clínicas, como por exemplo, o transtorno de déficit de atenção ou o transtorno de conduta, ou outros transtornos do desenvolvimento, tais como o transtorno específico do desenvolvimento da função motora ou os transtornos específicos do desenvolvimento da fala e linguagem.

Estes transtornos apresentam como causas, tanto fatores biológicos, quanto fatores não biológicos (oportunidade de aprender e qualidade de ensino, por exemplo). Contudo, o atraso do desempenho escolar de crianças em um estágio posterior de suas vidas escolares, devido à falta de interesse, a um ensino deficiente, a perturbações emocionais ou ao aumento ou mudança no padrão de exigência das tarefas, não podem ser considerados Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares.

Há ainda um grupo de indivíduos que, conforme pontua Moojen (1999), apresenta baixo rendimento escolar, mas que, contudo, não demonstram imaturidade do desenvolvimento e/ou disfunção psiconeurológica.  Esse baixo rendimento escolar é denominado como “dificuldades de aprendizagem”. Nestes casos enquadram-se: os atrasos no desempenho escolar por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de exigência da escola, ou seja, alterações evolutivas normais que foram consideradas no passado como alterações patológicas.

Fernández (1991) também considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. A dificuldade para aprender, segundo a autora, seria o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de aprendizagem de um indivíduo e, a fim de ilustrar essa condição, utiliza o termo inteligência aprisionada (atrapada, no idioma original).

Para a autora, a origem das dificuldades ou problemas de aprendizagem não se relaciona apenas à estrutura individual do sujeito, mas também à estrutura familiar a que esse está vinculado. As dificuldades de aprendizagem estariam relacionadas às seguintes causas:
1. Causas externas à estrutura familiar e individual: originariam o problema de aprendizagem reativo, o qual afeta o aprender mas não aprisiona a inteligência e, geralmente, surge do confronto entre o aluno e a instituição;
2. Causas internas à estrutura familiar e individual: originariam o problema considerado como sintoma e inibição, afetando a dinâmica de articulações necessárias entre organismo, corpo, inteligência e desejo, causando o desejo inconsciente de não conhecer e, portanto, de não aprender;
3. Modalidades de pensamento derivadas de uma estrutura psicótica, as quais ocorrem em menor número de casos;
4. Fatores de deficiência orgânica: em casos mais raros.
Tendo em vista as considerações feitas até aqui é possível propor uma divisão didática, como base no modelo apresentado por Romero (1995), na qual, podemos situar os problemas, transtornos, distúrbios ou dificuldades de aprendizagem:
                   1. Variáveis pessoais, como a heterogeneidade ou a lesões cerebrais;
2. Variáveis ambientais, como ambientes familiares e educacionais inadequados;
3. Combinação interativa de ambos os tipos.
Segundo o autor, é possível situar as diferentes teorias ou modelos de concepção das dificuldades de aprendizagem em um contínuo pessoa - ambiente, dependendo da ênfase na responsabilidade da pessoa ou do ambiente na causa da dificuldade.
Em um extremo estariam todas as explicações que se centram no aluno e que compartilham a concepção da pessoa como um ser ativo, considerando o organismo como a fonte de todos os atos. No outro extremo, estariam situadas as correntes de cunho ambiental, que estão ligadas, em maior ou menor grau, a uma concepção mecanicista do desenvolvimento, considerando que a pessoa é controlada pelos estímulos do ambiente externo.

5 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ROMERO, J. F. Os atrasos maturativos e as dificuldades de aprendizagem. In: COLL. C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, v. 3Ballone GJ - Distúrbio de Déficit de Atenção em Adultos - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, 2001 - disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/voce/dda_adulto.htm
Declaração de Salamanca - Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais – Espanha, 1994.

Nesta palestra, procuro abordar alguns aspectos sobre os transtornos e/ou distúrbios de aprendizagem que, na atualidade, ganham maior destaque no ambiente escolar.

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